Virei poeira
E o vento me carregou
Nesse passeio
Quantas coisas me mostrou
Da cor do topo da montanha
Do cheiro do fundo do mar
Do toque do voo pelos céus
Do toque da areia ao caminhar
Virei poeira
E o vento me levou
Sem destino fui por aí
Contemplando mundos
Dos mundos que visitei
Reconheço nesse o pior
Assumo
Quando poeira
Descobri o peso da matéria
E já não quis mais voltar
O vento sábio que era
Olhou-me nos olhos e disse:
- Acorda, é chegada a hora de retornar
Eu poeira, virei lama
- Por favor vento, permita-me ficar
- Vamos lá, os deveres estão a lhe esperar
E o vento implacável
Foi me devolvendo
Devolveu corpo
Devolveu mente
Pensamento
Rotina
Devolveu dúvida
Missão
Dever
Devolveu obrigação
Já não sou mais poeira
Já não sou mais só consciência
Já não lembro o que é voar
Um dia vento querido
Transforma-me outra vez
Pra sempre dessa vez
Em poeira nesse imenso cosmo
Nesse dia serei só amor
Nada de dor
Só saudade
Dessas
Que sente quem não entende
Que nada acaba
Tudo se transmuta
Muda de forma
Muda de lugar
Então não chore
E sinta-me te abraçar
Suelen Vieira
Imagem: Apollonia Saintclair
Comentários
Postar um comentário