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VOZES


Fui morta pelo pai dos meu filhos.
Na volta do trabalho pra casa, a pedradas.
Sem chance de defesa. Meu corpo ali foi largado.
Ele ameaçou, ele disse que iria me matar.
Eu não cri. Cão que ladra, mordeu.
Morri.
Foi-me arrancado a possibilidade de ver meus filhos crescerem.
Assim, a pedradas.
Eu me chamo Eloá. Nunca foi meu desejo, que fosse acrescentado ao meu nome, o prefixo Caso.
Esse foi o caso.
Eu tinha quinze anos, quinze, quando fui feita de refém pelo meu ex namorado.
Passei mais de cem horas, presa em minha própria casa, quando a polícia decidiu invadir o apartamento.
Fui morta, com dois tiros, um na cabeça, outro na virilha.
Aos quinze anos de idade.
Meu nome é Louise, e eu fui assassinada, aos 20 anos, na Universidade de Brasília.
Meu ex namorado queria reatar, porém eu não queria. Eu simplesmente não queria.
Fui dopada com clorofórmio, depois de desacordada ele me fez ingerir o produto que me mataria.
Meus pés e mãos foram presos, meu corpo enrolado num colchão, minhas coxas, meu rosto e minha intimidade, carbonizados.
Fui encontrada morta, na mata, irreconhecível.
Eu me chamo Thais, e também fui morta na UNB. Em 1987. Saí da aula, e nunca mais voltei pra casa.
Fui morta com um tiro, e dezenove facadas, pelo meu ex namorado.
Fui encontrada no meio do matagal, na 415 norte.
Ele havia tentado me sequestrar um mês antes, escapei aos berros. Ele me seguia nas aulas da UNB, no curso de inglês, em todo lugar.
Chegaram a dizer que provavelmente eu era usuária de drogas e que fui morta por traficantes.
Eu me chamo Eliza, e infelizmente também virei um Caso.
Eu fui morta, e nunca encontraram meu corpo. Minha família não me enterrou, não se depespediu.
Esquartejada, dada para os cachorros, a mando do goleiro Bruno, jogador do flamengo.. É o que diz o caso.
Hoje ele está solto, com sua vida de volta, jogando novamente, tirando foto com seus fãs.
A maioria desses Casos não estão no Wikipédia.
A maioria esmagadora, não ganha o prefixo Caso.
Mulheres são largadas em matagais, jogadas em lagos.
Mulheres são mortas, por não quererem continuar ao lado de seus "companheiros".
As coisas começam com um grito sim,
com um dedo apontado na cara,
com um :
- Você não pode me deixar!
O primeiro tapa.
A primeira porrada.
O primeiro chute.
O primeiro ponto.
Chutam-me grávida.
Matam-me grávida.
Tiro na testa.
Facada.
Sufocada.
Estuprada.
Arrancam-me a vida, por um não.
Como se meu corpo fosse deles.
Como se minha vida não me pertencesse.
Meus pais não se despedem.
Eu não volto pra casa.
Nunca mais me veem.
Eu sumo do mapa.
Não vejo meus filhos crescerem.
Eu grito do meu apartamento, os vizinhos não se metem.
Porque em briga de marido e mulher, não se mete a colher.
Eu denuncio, eu procuro ajuda, sou olhada com desprezo, com pena.
"Ela vive isso porque quer", eu ouço.
A delegacia da mulher não tem preparo pra me receber, machucada por dentro e por fora.
A delegada me diz:
- Você é muito bonita pra estar nessa situação.
E se eu fosse feia?
E se eu fosse pobre?
Justificado então?
Eu não quero morrer.
Eu estou cansada de apanhar.
E eu sou a voz de todas nós.
Suelen Vieira

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