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Quarto vermelho



Algum quarto vermelho, de um motel barato. Assim começa essa história, assim termina essa história.
Você me veio, com a caixinha de Pandora, e ali mesmo, libertamos nosso bem e nosso mal, nossos anjos e nossos demônios. Que por ora, dançavam todos juntos.

O que eu puder fazer pra te levar à loucura hoje, farei.
Faço.
Dois desconhecidos, dois amigos íntimos, dois amantes apaixonados.
Somos.
Tudo.
Nada.

O que faz isso aqui ser tão denso e forte?
As mentiras que conto?
As mentiras que me conta?
Os contos que nos tornamos?
O que faz o desejo ser tão desproporcionalmente maior que o bom senso?
O que faz eu te querer tanto?
O que faz você voltar?

Perguntas, ecos de perguntas, que povoam minha mente, enquanto você nos serve a bebida quente. Quarto quente. Nós dois, quentes. Nós dois.

Você se vira pra mim e eu esqueço de tudo, você varre os pensamentos, as palavras, as frases, os textos, tudo. Com um olhar você me esvazia.
- Bebe!
Bebida bebida.
- Tira a roupa!
Roupas caídas.
- Agora, dança pra mim!

Eu me viro de costas, inebriada com tuas falas, coloco as mãos na cabeça, dedos entre os cabelos, e começo essa dança. Vou me sentindo, cabelos, corpo, pele, desejo.

O quarto vermelho gira ao meu redor, e nesse subir e descer, eu me sinto ferver, molhar, enlouquecer.
Eu me viro pra você, te olho no fundo dos olhos, como se olhasse para o meu próprio fim. E começo a caminhar em tua direção, como se caminhasse rumo ao abismo de mim. Mergulho, ou melhor, sento-me nesse abismo. Pernas de um lado, pernas do outro, te abraço, te envolvo, te beijo.

Seja lá o nome que se dá pro que sinto agora, eu o sinto. O sinto em todo o meu corpo. Viro ar, e o sinto por todo o quarto, por toda a cidade, o sinto em mim, sentindo em todo o mundo, no mundo todo.

Seja lá o nome do que sinto agora, isso me faz expandir de tal forma, que eu o sinto até mesmo na minha consciência, deixo de ser corpo, torno-me consciência, e sinto, sinto, sinto.

E eu abro os olhos e volto pro quarto vermelho, pro cheiro de naftalina, eu volto pro seu olhar, eu volto pro seu colo, eu volto pra sua boca em meus seios, eu volto pra sua mão em minha bocet@, eu volto pro meu derreter, em você. Eu volto por você. Eu volto.

Você me deita na cama, me beija inteira, eu fecho os olhos e torno-me novamente o universo em sua boca fria. Nos seus lábios sabor ice.

Abro os olhos, volto pro teto, volto pra te chupar, volto pra olhar nos seus olhos, pra ver você se perder, volto pra embarcar em sua viagem, e eu desejo ir com você. Te beijo os lábios, e te vejo voltar pra mim. Só pra mim. Só por mim.

Você me vira de lado, eu estou ali, e aqui. No rádio relógio, na cabeceira de madeira, nas estrelas, no mar. E vamos juntos, daqui pra lá, vamos, e voamos, e voamos, e voltamos, de vez em quando voltamos, pra soltar um:
- Ah, que delícia.
Pra soltar um:
- Ah, sua gostosa.
Voltamos para nos beijarmos, para nos olharmos, para nos sentirmos.

E dançamos, e todos nossos medos dançam, e todas nossas taras dançam, e todos nossos fantasmas, dançam. E o nosso passado, nosso futuro e o nosso agora, eles dançam, eles transam, e nessa troca, eles viram um. E no virar um, nós gozamos.

E eu digo que te amo, mil vezes, eu digo que te amo. Um milhão de vezes, eu digo que te amo. E eu berro que te amo, e eu sussurro que te amo. E eu gemo, um eu te amo. Mesmo que só aqui dentro, mesmo que só na minha mente, mesmo que em silêncio, eu digo:
- Eu amo você!

(Suelen Vieira)

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