Pular para o conteúdo principal

Sen(s)ações



Senti que peguei o último trem,
senti que desci na última estação,
senti que caminhei em fila indiana
rumo ao fim de mim mesma.
O último dos fins.
Senti que senti minha morte,
senti que todo mundo ali sentia,
a minha e a deles,
eu estava sozinha no meio da multidão.
Senti que todos estávamos.
Milhares de pessoas reunidas,
e sozinhas em si,
sozinhas e trancafiadas em suas mentes,
que só mentem, e mentem, e mentem.
Senti esgotamento físico.
E a morte já nem era tão temida.
Senti que cada passo era rumo ao abismo,
senti o coração desacelerar cada vez mais,
a mente calar a porra da boca,
parar de me enganar.
O relógio era enorme, e marcava hora nenhuma.
Último trem,
última estação,
última mulher,
último cigarro,
último adeus
De uma série maldita de adeuses.
Senti que deveria orar,
e fazer algo poético,
não quis.
Quis mandar todo mundo se foder,
chamar todos de egoístas.
Dizer que somos todos crianças
preocupadas única e exclusivamente
com a porra da meleca do nosso próprio
[umbigo.
Uma série de seres infelizes,
robóticos,
que não se olham nos olhos,
não se abraçam,
não se escutam.
Um bando de gente escrota,
preocupada só com suas dores,
reclamando de quem se preocupa
apenas com suas dores.
Escritores estúpidos,
achando que falam palavras novas,
quando apenas repetem,
e repetem.
Não, eu não disse amém.
Não disse amem.
Não acredito mais na capacidade
dessa multidão de amar.
A não ser que seja conveniente.
Se ele não é a favor do que você pensa,
vaiado.
Agora, se ele tem o discurso ensaiado
que você apoia,
ovacionado.
Pedir a Deus que nos salve?
Não faço uma oração por vocês,
nem oração a Deus.
Eu simplesmente saio,
saio da hipocrisia e mediocridade
às quais faço parte.
Pode pegar fogo,
que eu não ligo,
e agora, eu agora estou sorrindo.
Adeus!
- Suelen Vieira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sonhei com você

Acabei de olhar minha bunda no espelho, e os roxos estão lá. Inevitavelmente viajei pra noite passada. Fiquei com tesão só de lembrar. - o dia que precede a noite - Eu acordei no mó tesão. Tinha sonhado com você, então já acordei molhada, querendo seu beijo, sua mão me segurando, sua pele na minha. Querendo seu pau sabe, na minha boca, na minha cara, na minha boceta e no meu cu. Uma loucura, eu assumo. Muito tesão pra uma terça de manhã. Mandei um oi no Whats, e uma foto pelada. Ops. Você me respondeu: - Alguém acordou inspirada. - Sonhei com você. - Hummm. Conta. - Conto não, vamos fazer? - Vamos. Hoje? - Isso. - Eu te pego na sua casa 22h, pode ser? - Pode. Me arrumei pra ir pro trabalho, e fui. Passei o dia com tesão. E o dia falando sacanagem com você. Ia no banheiro, tirava uma fotinha dos meus peitos e te mandava. - Eles estão morrendo de saudade! Assim seguiu o dia. Finalmente fim de expediente. Vou pra casa, tomo um banho. Visto uma calcinha e sutiã de couro. V

Dia 21 de dezembro

O que aconteceu meu amor? O que aconteceu com o nosso amor? Que dia é hoje, sábado? Desde que dia estamos brigando? Por que mesmo, estamos brigando? Como nos tornamos isso? Seja lá o que for isso. Era pra ser só eu e você, essa semana. Por que não estamos nos amando, ao som de Erikah Badu? Quando te olhar passou a doer? Por que dói tanto? Quem traiu, quem mentiu? Quem xingou, quem ofendeu? Por que sinto medo ao te olhar? Por que você está a chorar? Eu só te vi chorar uma vez, no enterro da pessoa que você mais ama. Isso é um enterro de nós? Por que meu corpo arde? Por que me sinto em chamas? Por que dói tanto, meu amor? Por que parece agora que nos odiamos? Por que tanta imaturidade, minha, tua? Por quê? Por que eu estou gritando? Por que você está calado? Por que eu estou tão desesperada, assustada, acuada? Como meu amor, como chegamos aqui? De mim deitada na cama do hospital e você do meu lado, a nós dois gritando um com outro n

Deita

Vou me deitar que é pra te amar na horizontal. Deita aqui do lado pra admirarmos o luar. Contar estrelas, e catar as cadentes. Vira mar em meus lábios, agora(!) Vira amar no meu peito, urgente(!) Vou me deitar, admirar-te virando luar... Admirar-te, virando e caindo, verde relva sobre [mim. Chove comigo, de prazer e de dor. É tanto amor que sinto a sanidade sumir. Escapa entre os dedos, os meus. Os seus passeiam, [por mim. Respira-me, até de fato eu virar ar. Ah, meu amor... Você me bagunçou, já nem sei quem sou. Se sou eu, ou sombra sua. Se sou minha, ou toda tua. Meu desejo, seu desejo, nos matando. Deita-te aqui, e observa o nosso amar nos consumir! - Suelen Vieira