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AGORAS


Rolava algum som, que não me lembro mais, estávamos em sintonia.
O beijo encaixava, o corpo encaixava, a mente divagava, a alma sorria.
Uma garrafa de vinho, tomada. A segunda, já pela metade. 
Tudo um pouco mais lento que o normal, menos a mente, que te despia só com o olhar.
Você tocava a minha cintura e eu te sentia em cada um dos meus poros, e não conseguia explicar pra mim mesma, como isso era possível.
Sua presença era quente, e fazia meu coração bater bagunçado, como se de repente tudo saísse do ritmo, do compasso.
Você beija o meu queixo, o canto dos lábios, e eu sentia o corpo todo inflamando.
Eu fechava os olhos, me concentrando em não implorar pra ser comida, ali e agora. Afinal, eu não queria ser apressada.
Você descia, sentia meu perfume, dizia gostar. Falava isso com essa voz rouca, colada ao meu ouvido.
Passava as mãos em meus braços, quase sem me tocar. E me provocava arrepios, difíceis de explicar.
A cada beijo, a cada gole, mais tonta, mais zonza.
Tonta de você, e de vinho cabernet.
Esse nosso beijo nos conduzia a outros lugares, espaço físico acabava, gravidade sumia, e o tempo virava fagulha. Virava poeira de estrela.
Ah, o nosso amar. Filme nenhum vai demonstrar, o que era o nosso amar. Uma infinita criação de possibilidades, uma loucura calculada, um romance, uma pornografia barata, um ato de Shakespeare, um texto de Bukowski, uma oração, uma difamação.
Eu amava isso, amava as dualidades, eu amava você, com todas as forças do meu ser, nesse espaço tempo de três dias, de três horas, de um mês ou de dois anos.
Nossas frases ao pé do ouvido, os gemidos berrados.
As ordens dadas e obedecidas, os pedidos e vontades saciados.
As taras, libertas.
As amarras, soltas.
Os nós, desfeitos.
Os laços, feitos.
Os lençóis, amarrotados.
As mãos, atadas.
Os pés, amarrados.
E os olhos, muito bem vendados.
A entrega, completamente entregue.
Horas, dias, meses, anos, e um agora.
Esse agora.
Eu, você, nós e eles, e um agora.
Nosso agora.

- Suelen Vieira

Imagem: Nudegrafia

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