Eles conversaram durante uma semana, e resolveram se
encontrar. Pré-acordo de casualidade estabelecido com sutileza, sendo assim,
vamos ao sexo. Ela pensava “É de uma transa casual que eu preciso. É certamente
isso.” Já ele não pensava muito no assunto.
A saída:
– Posso te buscar às
22h então? – Ela leu, e sentiu seu coração acelerar.
– Okay – Digitou e enviou em seguida, querendo parecer o
mais despretensiosa o possível.
Enquanto escolhia uma roupa, ela pensava “Por que estou
tão ansiosa? Estou enjoada? Sério? Acho que quero vomitar. Não é nada demais, só
uma saída, garota.”
Tomou um banho, vestiu uma calça jeans, pra que não
parecesse aqueles encontros específicos pra sexo, ainda que fosse um encontro específico pra sexo. Passou o seu melhor perfume. Fez
aquela maquiagem, que faz parecer que não se está usando maquiagem alguma. E estava pronta.
Cerca de dez minutos depois do horário combinado, uma
mensagem chega:
– Me enrolei um pouco, mas já estou chegando.
Ela ficou sentada no sofá, sentindo que tinha um vento forte
na barriga, como se estivesse passando em alta velocidade em um relevo, ou algo
assim. Ainda se perguntando pra que tanta ansiedade, e pensando “Ah, como amo
esperar…”
Mais alguns minutos e outra mensagem dizendo – cheguei, pode
sair – Ela lê e diz – Finalmente.
Capricornianas são chatinhas assim mesmo.
Ela entra no carro, implorando pra que ele parasse de olhar pra
ela de forma tão fixa. “Ele é bonito, cheiroso, e seus olhos são lindos.” À meia luz, e em trinta segundos, é essa a conclusão dela.
Ele diz um Oi um alongado, que se fosse escrito em
algum aplicativo de conversa seria assim ‘Ooooi’ ou ‘Oiiii’. Ela responde com
um Oi tímido, que se fosse no WhatsApp, por exemplo, seria seguido de uma carinha dessas de
bochecha vermelha.
– Então, pra onde você está me levando?
Ele responde com uma pergunta:
– Você confia em mim?
“Bem, eu te conheci há uns dois anos, mas a gente só conversa há uma semana, temos um monte de amigos em comum, então, você não me
sequestraria, eu acho.” Ela ri ao pensar isso e diz - sim, confio.
No caminho pra esse lugar misterioso, eles conversam sobre
como se conheceram, anos atrás, e sobre como foi inusitado a forma dela, de o
abordar, atualmente. Sorriem de assuntos aleatórios, e escutam algumas músicas aleatórias.
Ele para o carro na rua, e aponta a direção da casa dele – é ali – se inclinam
de frente um pro outro e começam a conversar.
Falam sobre tudo, e sobre nada ao mesmo tempo. Ela fala
bastante, ele também. Ele gesticula ao falar, os olhos dela sorriem ao escutar.
Olham-se nos olhos, olham suas bocas se mexendo. Não mais borboletas, ou frio
na barriga. Ela agora está calma. Ele apresenta o seu show, sou legal. Ela
gosta do show, ele é legal. De maneira quase que automática, ela o beija, ou
melhor, toca os lábios dele, com os lábios dela. Ele sorri, e a beija de volta,
demorado, apertado, e intenso, com pausas para risinhos. Ele vai beijando seu
pescoço, tocando-o, a mão escorregando, descendo por seus seios, sem tocá-los
de fato.
Sem descer do carro, as coisas começam a ficar quentes, a respiração
dela começa a acelerar. “Meu Deus, eu tô muito excitada…” Ela pensa, enquanto
aperta uma coxa contra a outra.
Ela não transa há cerca de seis meses. Ele não transa há cerca
de uma semana. Ela está solteira, há cerca de seis meses. Ele também. Ela não
superou esse término. Ele... Bem falaremos mais pra frente sobre isso.
Ele desce, ela sobe, mãos se multiplicam, muita gente pra
pouco espaço, uma multidão, pra ser exato. Ele passa pro banco dela, e tira
suas calças. Lá se vai por água a baixo, o plano de dificultar as coisas. Ele
coloca um Halls preto na boca, e a beija. Ela pensa “Aonde ele vai com isso?
Aonde? Aonde?” Ele vai pra lá, e vai mesmo. Vez ou outra busca o olhar dela,
procurando aprovação, e encontra; no gemer, no arfar, e nas contorções nesse tão
pequeno espaço. “Isso, isso, isso. Não, não, não. Pra direita, aí. Isso, não
sai daí pelo amor de Deus, eu posso pensar em Deus agora? Ai meu Deus, isso tá
muito bom. Puta que o pariu.” Ela pensa, enquanto solta Huns e Ais.
Ele a olha, ela olha pra ele de volta. Lá no fundo dos olhos
dele, e diz:
– Vou gozar!
– Goza pra mim!
“Sim, eu gozo…” Em pensamento ela responde, enquanto todo
seu corpo treme nos lábios dele.
Ele sobe, e a beija. Entre erros de logística, seus corpos
se encaixam, e é tudo simetricamente correto. O espaço dos corpos juntos, o vai e
vem, os arranhões, os beijos. Ela o aperta, o abraça. “Eu vou gozar de novo, puta que o pariu.” Ele sente o corpo dela tremer contra o dele. Ele não
para. Continua e continua. Vidro embaçado, corpos suados, muito tesão. Ele pega
na mão dela e seus dedos se entrelaçam. Pra ele, um lugar onde colocar a mão.
Pra ela, uma conexão.
Ela transa com todo seu corpo, com os lábios, com as mãos
que se unem, com os sexos. Em algum momento ele a chama de meu bem, ela gosta
disso. Gosta muito. Ela está muito molhada. Finalmente, ele pede:
– Goza comigo, vai?
Ela goza, pela terceira vez, ela goza. E isso, não é tão comum
quanto parece até aqui, nesse texto. Ela goza com ele. Eles ficam ali, alguns
segundos ou minutos agarrados ao êxtase, de olhos fechados, de mãos dadas, de
rosto colado.
Primeiro, soltam-se as mãos, depois descolam-se os rostos e os corpos, por
fim, os sexos. Ele sai de dentro dela. Ela continua de olhos fechados, curtindo
o desbaratino pós sexo do bom. Ele vai pro banco dele, e começa a se vestir.
Afinal, eles continuam num carro parado, no meio da rua, sem ser de madrugada o bastante, ou seguro o bastante. Ela ignora tudo isso, só gostaria de ficar ali, não se vestir, não
sair correndo, não se mover. Só ficar, só estar, só ser. “Acho melhor eu me
vestir também.” Ela veste seu fator complicador, ou seja, sua calça. E as demais peças de roupa, claro. Passa a mão no desgranhado dos cabelos, e o olha, meio sem jeito,
meio querendo mais, meio satisfeita, meio ainda com muito tesão, e bem feliz.
– Vamos? – pergunta ele.
E eles seguem de volta pro ponto de partida. Mais conversas
aleatórias, agora com menos malícia que antes. Quanto tempo solteiro? E você?
Ficou quanto tempo viajando mesmo? E como foi? Que músicas você gosta? Conhece
Fulano? Legal, gosto dele também.
Chegam em frente à casa dela. Ela pensa “Eu não quero
entrar, não quero te dar tchau, eu quero ouvir você falar sobre as coisas
profundas da vida, e também sobre as minas que tanto dão em cima de você. Fala!
Só fala!”
Ela começa a puxar mais assunto, ele responde. Mais assuntos
aleatórios. Ela não consegue parar de olhar pra ele. E o pior, ela sequer
percebe isso. Ele percebe. O corpo todo dela se inclina pra ele. Ele percebe.
– Tá tarde, estou cansado, hora de ir, né?
– Ah, não – ela diz enquanto faz cara de manhosa.
Uma risada, que se fosse no WhatsApp seria “hahaha”.
– É, melhor eu entrar. – Ela se lembra quem é ele, e quem é
ela. Dois semi-desconhecidos. Por que querer falar a noite inteira? “Por que diabos quero conversar a noite inteira, porra?”
Ele dá boa noite, e a pergunta some como uma nuvem evaporando.
Ela responde ao boa noite, e entra em casa.
Banho tomado, mensagem de cheguei. Hora de dormir. “Foi só
um sexo, só hoje, nada demais, não precisa pensar nisso o tempo todo.” Logo
depois de pensar isso, lá está ela repassando todos os acontecimentos, todas as
falas, todos os ois, todos os sorrisos. Tudo.
Ela já se apaixonou nessa tal casualidade. No segundo
encontro, numa mesa de bar, enquanto ela o olha sem parar, ele vai fazer uma cara
de que já sabe onde isso termina. Ela vai demorar mais um ou dois encontros, e
algumas conversas pra pensar “Acho que posso me envolver nessa história.” Vai
tentar se afastar. Vai se reaproximar. Mais alguns encontros, alguns
desencontros, alguns desentendimentos do que se quer, do que não se quer, pra ela
então pensar “Acho que estou me apaixonando.” E então, dizer – Acho que estou me envolvendo – Esperando ouvir um – Eu também – E acabar ouvindo um – Não estou nesse momento,
não penso nisso, não pretendo. Saí de um relacionamento longo – Enfim, todas os
nãos possíveis, sem um não, propriamente dito.
Ela vai se afastar, ele vai aparecer, sem aparecer de
verdade. Ela irá aceitar mais encontros casuais, vai propor alguns encontros
casuais. Vai ouvir não para filmes e cinema. Vai ouvir sim para sexo e motéis.
Vai conhecer alguns motéis. Vai ouvir sobre a ex, vai falar sobre o ex. Vai
conhecer um mundo sexual novo, e realizar fantasias, vai ser bom. Vai ser
prazeroso, e difícil de largar. Vai ser gostoso. E ao mesmo tempo doloroso. Ela
vai dizer pra si mesma “que está tudo bem, tudo bem o não pra aquilo que eu gosto
de fazer. Tudo bem eu aceitar o que ele quer e está disposto a me dar, isso é
casual, e é assim que funciona, claro.”
Alguns meses depois, ela vai chegar a conclusão que está apaixonada.
Vai dizer isso pra ele, na cama pequena do motel, e sentir o peso de uma pausa
muda, seguida de um – Não faz isso. – Vai responder que é tarde demais. Vai
querer sumir dali, estar em casa, na sua cama, de olhos fechados e em silêncio.
Vai embora em silêncio ao lado dele. Ele vai perguntar, – Quer
falar alguma coisa? – Ela vai dizer que não, e não vai ser mentira dessa vez,
ela não quer falar, ela não quer existir, ela quer estar em silêncio, ser
silêncio.
Um dia de madrugada, ela vai acordar, e vai ter uma mensagem
dele, dizendo que precisam conversar. O corpo dela inteiro vai gelar, ela vai
responder, mesmo fora de hora, vai voltar a deitar. Vai passar horas sentindo
enjoo, sentindo esse frio pelo corpo. Até que ele vai telefonar. Ela está indo
pra casa, ele diz pra ela que pensou sobre o que ela disse – Não podemos
continuar, não é certo com você ou comigo. É sacanagem ‘pô’ – Ela engole em seco e
chora, ele pergunta se ela está chorando, e chorando ela diz que não. Ele diz:
– Então está quase.
Ela cala. Volta pra casa se sentindo pequena. Meio vazia. Ou
totalmente vazia. Novamente se reaproximarão, provocações de ambos os lados,
ele vai dizer – Quero transar com você – Ela vai responder que quer também. Não
vai assumir, nem mesmo pra si, que na verdade ela quer amar. Ela vai amar, ele vai
transar. Eles dois vão gozar, e ele vai embora. “Está tudo bem. Está tudo bem.
Merda! Tudo bem! Merda!” Quanto mais ela pensa, mais ela pensa.
Outra transa, dessa vez algumas garrafas de vinho tomadas
por ambos. Ele vai dormir, meio bêbado, depois de um sexo ensandecido, como
todos eles são entre eles. Ela vai passar o resto da noite, dormindo e
acordando. No outro dia ele vai embora. “Tudo bem, está tudo bem” Ela continua
a repetir pra si.
Novamente, outro fim. Ela vai chorar, sentindo que agora é
pra valer. Ela vai conhecer outra pessoa, o pensamento nele vai diminuir, mas
não sumir. Ela ainda quer vê-lo. Outra reaproximação, outro encontro casual,
outra briga casual, outra cena de ciúmes, dela. – Já terminei namoro por causa
disso, aí eu tenho que aguentar de você?
O pensamento nele, cada vez mais forte. Em viagens, o nome
dele povoa a mente dela. Lugares a conhecer, com ele. Coisas a viver, com ele.
Presentes a dar, pra ele. Lugares pra transar, com ele. Outro encontro. Dois
dias depois – Quero conversar contigo – Novamente ela lê na tela do celular.
Ela diz – Eu tô bem, juro, relaxa. Não vamos complicar, por favor. – Sem
complicação, é sobre mim. Serei curto e gentil – ele vai dizer e vai mentir.
Um encontro, um adeus, um fim, um término do que nunca foi
algo – Há algo não resolvido na minha vida com minha ex, e decidi lidar com
isso – ele disse algo assim, segurando o presente dela em suas mãos, sentado em
seu sofá. – Tudo bem – ela respondeu, segurando as lágrimas, e se esforçando pra
estar bem. – Esse fim, já conta de hoje, ou podemos transar? – ela fala pra
ele, com cara de desejo. – Você é muito sem juízo hein – ele a responde, com
cara de quero.
Eles ficam, ele se entrega como nunca antes. Dorme agarrado
a ela. No outro dia, transam outra vez, muito melhor que uma transa matinal pode
ser. Depois ficam ali, lado a lado, falando coisas importantes. Vez ou outra
ela chora. Ele diz que ela é bonita, inteligente, foda. Ele diz que gosta dela,
tem carinho, etc. Mas nada a convence ou a deixa bem, como havia de ser nessas
situações. Ele fala dentre coisas boas, algumas besteiras, que a marcam muito
mais. Por fim ele se levanta pra ir embora, depois de cerca de dez horas ali.
Ela custa deixá-lo ir. Assim como no primeiro dia que ela o viu, ela não queria
que ele fosse embora, agora mais ainda, que ela sente ser a
última ida. Ela quer ficar em silêncio ao lado dele, ou quer repetir as coisas
que foram ditas. Quer adiar esse fim. Ele vai. Ela fica.
Vinte e quatro horas sem comer, luzes da casa apagada,
silêncio de falas, pensamentos, sons. Ela dorme, e dorme. Passadas essas horas,
ela se levanta e pensa “Preciso sair dessa, o que eu preciso agora é, lavar o
meu cabelo, só isso. Um banho, da cabeça aos pés. Só isso. Me limpar de tudo
isso, me limpar da tristeza, do sexo, das palavras, dos insultos ao ego, dos
elogios treinados…” As palavras ditas horas antes, ecoam na mente, fazendo um triste coro.
Finalmente ela come.
Vai passar alguns dias, ela vai estar minimamente melhor, e
vai se aproximar outra vez. Eles vão conversar, ele vai mostrar pra ela,
detalhes do mundo dele. Ela vai adorar. Até chegar o outro dia, e ela se dar conta que não pode ter aquilo. Nada daquilo. Vai sofrer novamente, os
mesmos enjoos, os mesmos frios pelo corpo.
Ela vai perceber que não dá. Nem
amizade, nem nada. Não dá. Não dá agora, talvez nunca dê. Mas definitivamente,
não dá em dez dias. Não dá pra ser ombro, não dá pra ser apoio. Não dá pra dar
o que não se tem pra dar. Ela vai falar pra ele sobre tudo que está sentindo.
Ele vai responder – Irei viver algo, que você não faz parte – querendo dizer –
Aceita, por favor! – E irão dizer tchau, e irão perceber que nenhuma conversa,
nenhum contato, nenhuma relação é possível. Ela sabe disso, mas vai ser difícil
pra ela ouvir ele dizer – Por favor, não fala comigo mais. Se você falar eu
irei reagir, e já vimos que não dá. Enquanto isso não passar, não fala comigo,
não abre exceção disso não. – Novamente, outro fim.
Ela vai sofrer, vai ficar frágil,
arrasada, vai se perguntar onde foi que aconteceu. E eu digo pra ela ao dizer
pra vocês. A borboleta, antes do
primeiro encontro. O sorriso, a cada mensagem recebida. O toque de mão, que pra
ela foi conexão. O quanto os olhos dele eram verdes demais pra ela. O prazer
exagerado em ouvir ele falar, sobre nada ou sobre tudo, ou sobre coisas bem
idiotas. Em tudo aquilo que ela buscava encontrar, e projetou nele. Como numa
tela branca, ela jogou cores, e mais cores. Pintou e bordou. Criou, inventou.
No casual que ela acreditou viver, mesmo sem ter vivido, um segundo sequer.
Desde aqueles trinta primeiros segundos, já não era casual, não pra ela. Não mais. E
fim da história.
Sem palavras
ResponderExcluirLindo, Su. Muuuito bom mesmo!
ResponderExcluir